São Paulo é um ninho de mafagafo, um formigueiro. É um universo de excessos. De gente e de carros. De riqueza. E de pobreza. De luxo nos arredores da Paulista e de lixo em meio aos edifícios pichados nos labirintos do Minhocão. De engravatados que desfilam pela Faria Lima em seu horário de almoço e de esfarrapados que juntam seus trapos ao catar papel durante todo o dia em todo canto.
É uma mistura de diferentes matizes de cinza, de tribos que se acotovelam em meio às estações lotadas de trem e metrô. É um aglomerado de construções, viadutos, túneis e pontes. É uma cidade sem relógio, que funciona ininterruptamente, seja manhã, tarde, noite ou madrugada. É lugar de poucas cores, pouco verde, pouco azul. No centro, árvores dão lugar ao concreto. No céu, o azul é substituído por uma estranha tonalidade resultante da poluição. O horizonte é esfumaçado, meio cor de rosa, meio cinza escuro.
São Paulo é um caos, mas é um caos organizado. Os motoristas se xingam, mas conseguem desviar uns dos outros. As motocicletas buzinam, em uma intensidade que chega a incomodar os tímpanos; fazem fileiras em meio aos carros e vão tecendo uma teia por entre os congestionamentos. Os pedestres se amontoam para atravessar um cruzamento, mas andam a passos largos entre si, ultrapassando os que apenas andam a observar as muitas vitrines espalhadas nos mais inacreditáveis espacinhos. Na Sé, há trânsito de gente; não de carros.
São Paulo é minha terra natal, mas não foi ela que me criou. Foi apenas reduto das minhas férias e das passagens do interior do Brasil rumo às praias que são minha paixão. Mas é cidade que abriga sem questionar, que acolhe desesperados e endinheirados. É palco de rica cultura, de espetáculos tradicionais e controversos, sejam eles reais ou fictícios. É a cidade do sanduíche de pernil e do incrível pão com mortadela do Mercado Municipal. É o local do skate no Parque do Ibirapuera, dos belos jardins do Museu do Ipiranga e do imenso vão livre do Masp.
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Só tenho boas lembranças das muitas temporadas que passei por essa cidade cinza que também é um pouco do meu lar. Do trabalho maravilhoso no jornal O Estado de S. Paulo - e de uma equipe incrível e inesquecível -, das caminhadas pela Domingos de Morais e pela Paulista, das andanças em pleno centrão, conhecendo locais conturbados como a 25 de março, o Mercadão, a Sta. Ifigênia, o Teatro Municipal, o Pátio do Colégio, o Mosteiro de São Bento (e suas tumbas internas) e a Catedral da Sé.
São Paulo é uma cidade em mil. Sim, poderia ser mais bonita e bem cuidada, mas é um retrato bastante fiel da realidade que traça há 456 anos. E eu fico pensando: dentro desta cidade cabem quase dez da minha Goiânia.