quarta-feira, 25 de agosto de 2010

despedida

Oi, calor infernal. Já vi que vai rechear meus dias com um sol intenso e terrível.

Tchau, friozinho gostoso. Já estou com saudades...

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P.S.: Não, isso não é mau humor de quem é ranzinza. É apenas uma constatação de quem prefere muito mais trabalhar bem vestida com casacos e botas do que com regatas, sandálias e suor.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sobre o Bob Dylan e uma cadela

Já não me sinto tão perdida ao andar pelas ruas de Campinas. Já sei que o Centro de Convivência fica bem ao lado de onde trabalho e também sei andar um pouco mais além da Lagoa do Taquaral. Já aprendi a pegar as estradas dos arredores e encarar as milhares de bifurcações e viadutos como naturais. Já sei chegar sozinha ao Iguatemi e ao Galeria. Já fiz compras em pelo menos três supermercados diferentes. E hoje, voltando do trabalho por um caminho ainda não percorrido, descobri um trajeto com um pouco menos de trânsito - embora eu não veja o trânsito daqui como um bicho de sete cabeças.

E tudo isso é para falar que voltei para casa hoje escutando algo que não ouvia há muito tempo. Depois de uma semana com um CD nacional rodando sem parar, resolvi trocar e peguei o primeiro que caiu à minha mão. E lá veio o Bob Dylan, com sua voz inconfundível, seu tom meloso e sua gaita estridente. Veio a primeira música e passei para frente - muito chata (que me desculpem os fãs, mas nem sei o nome). Depois, Blowing in the Wind. Um show.

Mas a que mais me fez lembrar de uma época em que eu simplesmente odiava Bob Dylan foi a terceira faixa - The times they are a-changin. Odiava não porque achava ruim, mas porque minha mãe havia comprado aquele conjunto de LPs Biography e simplesmente o escutava o dia inteiro. Sem saber inglês, eu já sabia todas as letras de cor. E ela escutava de um lado, com o som a todo o volume, e minha cadela (saudosa Bonnie) uivava do outro. A cada gaitada, um uivo. A cada troca de faixa, um minuto de silêncio.

O agudo da gaita devia machucar os ouvidos dela, mas que era o máximo ver aquele fuço comprido se esticando para o alto e fazendo biquinho, ah isso era.

Lembrei disso e deu saudade. Viram como a vida da gente é feita de pequenas lembranças que valem muito?

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Aos que querem lembrar da música:
http://www.dailymotion.com/video/x2lfz3_bob-dylan-times-they-are-achangin_music

Aos que querem conhecer a Bonnie:












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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Um pouco de saudades de São Paulo


São Paulo é um ninho de mafagafo, um formigueiro. É um universo de excessos. De gente e de carros. De riqueza. E de pobreza. De luxo nos arredores da Paulista e de lixo em meio aos edifícios pichados nos labirintos do Minhocão. De engravatados que desfilam pela Faria Lima em seu horário de almoço e de esfarrapados que juntam seus trapos ao catar papel durante todo o dia em todo canto.

É uma mistura de diferentes matizes de cinza, de tribos que se acotovelam em meio às estações lotadas de trem e metrô. É um aglomerado de construções, viadutos, túneis e pontes. É uma cidade sem relógio, que funciona ininterruptamente, seja manhã, tarde, noite ou madrugada. É lugar de poucas cores, pouco verde, pouco azul.  No centro, árvores dão lugar ao concreto. No céu, o azul é substituído por uma estranha tonalidade resultante da poluição. O horizonte é esfumaçado, meio cor de rosa, meio cinza escuro.

São Paulo é um caos, mas é um caos organizado. Os motoristas se xingam, mas conseguem desviar uns dos outros. As motocicletas buzinam, em uma intensidade que chega a incomodar os tímpanos; fazem fileiras em meio aos carros e vão tecendo uma teia por entre os congestionamentos. Os pedestres se amontoam para atravessar um cruzamento, mas andam a passos largos entre si, ultrapassando os que apenas andam a observar as muitas vitrines espalhadas nos mais inacreditáveis espacinhos. Na Sé, há trânsito de gente; não de carros.

São Paulo é minha terra natal, mas não foi ela que me criou. Foi apenas reduto das minhas férias e das passagens do interior do Brasil rumo às praias que são minha paixão. Mas é cidade que abriga sem questionar, que acolhe desesperados e endinheirados. É palco de rica cultura, de espetáculos tradicionais e controversos, sejam eles reais ou fictícios. É a cidade do sanduíche de pernil e do incrível pão com mortadela do Mercado Municipal. É o local do skate no Parque do Ibirapuera, dos belos jardins do Museu do Ipiranga e do imenso vão livre do Masp.

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Só tenho boas lembranças das muitas temporadas que passei por essa cidade cinza que também é um pouco do meu lar. Do trabalho maravilhoso no jornal O Estado de S. Paulo - e de uma equipe incrível e inesquecível -, das caminhadas pela Domingos de Morais e pela Paulista, das andanças em pleno centrão, conhecendo locais conturbados como a 25 de março, o Mercadão, a Sta. Ifigênia, o Teatro Municipal, o Pátio do Colégio, o Mosteiro de São Bento (e suas tumbas internas) e a Catedral da Sé.

São Paulo é uma cidade em mil. Sim, poderia ser mais bonita e bem cuidada, mas é um retrato bastante fiel da realidade que traça há 456 anos. E eu fico pensando: dentro desta cidade cabem quase dez da minha Goiânia.