Aquela dorzinha de cabeça chata com que acordara lembrava a ela os excessos da noite anterior. Sua fase de bebedeira exacerbada já havia sido deixada para trás, nos distantes anos da faculdade, mas ainda assim, os dois chopps acompanhados por bolinhas de provolone à milanesa não caíram bem. Depois, sem resistir à maravilhosa torta de limão - a mais incrível que já comera em toda a sua vida, crocante, azedinha e incrivelmente saborosa! -, ela lembrou-se das promessas de início de ano e do sempre adiado plano de começar uma dieta efetiva e de acabar-se fisicamente em uma academia.
Mais uma vez a gula vencera. É que ela sempre prezara os comes e bebes e, mesmo depois de alguns anos "de mal" com a balança, ela ainda não se acostumara ao fato de não ser mais aquela menina magrela que podia comer de tudo a qualquer hora.
Durante o dia, ela até que lidava bem com seus excessos - deixava de lado o refrigerante (ou o trocava por água), comia quase que só salada acompanhada de um grelhadinho. Hummmm. Mas era à noite que o bicho pegava. Pão, muito pão. Queijo, muito queijo. Coca-cola, muita coca-cola (uma das maravilhas da humanidade, convenhamos). E até que era conformada com as consequências de toda essa ingestão calórica, pois era feliz. Muito. Isso que importava.
Seu teto desabava mesmo quando experimentava seus lindos vestidos de festa ou quando precisava passar horas escolhendo roupas nas lojas. Passou a odiar as saídas para comprar roupas. Mas gostava de comprar sapatos. Sim! Se pudesse, teria uma centena de pares. Mentalmente, já contabilizava nos dedos quantos novos sapatos e sandálias PRECISAVA urgentemente. Tinha a rasteirinha, a de salto médio, o fechado confortável, a sapatilha. Tudo em preto, bege ou marrom. Ah, se desse, podia ser um de cada, de todas as cores.
Universo complexo esse feminino, não?